segunda-feira, 15 de março de 2010

Bryan Adams

Simplicidade à flor da pele

Campeão de vendas e repetente em termos de concertos, o «kid» canadiano volta a invadir os nossos estádios para mais uma dose de «rock'n'roll» simples e bem disposto. Muito provavelmente, milhares dos nossos adolescentes voltarão a reafirmar com ele que «kids wanna rock».

É um verdadeiro fenómeno de popularidade em Portugal. O seu disco de 1991, «Waking Up The Neighbours», vendeu mais de 120 mil unidades, tornando-se no segundo álbum mais vendido de sempre no nosso país. No ano passado, editou o «Best of» «So far, so good», que não chegou ao mesmo estatuto mas que, ainda assim, se tornou noutro sucesso (previsível) de vendas. Ainda por cima, vem tocar a terras lusas pela quarta vez, depois de já cá ter estado em 1988 -- num pequeno concerto na Damaia e no Festival Rock do Benfica -- e de ter regressado em grande, em Dezembro de 1991, para dois espectáculos que, em conjunto, levaram ao rubro cerca de 55 mil pessoas na Exponor, em Matosinhos, e no estádio de Alvalade, em Lisboa. Vai regressar agora ao «local do crime» já no próximo domingo, dia 10, para muito provavelmente repetir o feito.

O seu sucesso no nosso país, bem como noutros, não é, afinal, de estranhar. Adams promove, através da sua música, um tipo de imaginário de simples apreensão e que exalta os factores mais imediatamente gratos das relações humanas. Dedica-se, pois, a retratar uma «adolescência eterna», descomplexada de problemas existenciais que possam ir além da perda de uma namorada ou de uma momentânea e inconsequente rebeldia suburbana (suburbana pelos padrões norte-americanos, entenda-se). No fundo é música branca, juvenil, de classe média, despreocupada e destinada a fazer sentir bem quem a ouve -- e daí a sua popularidade.

Canções como «Summer of 69», «Straight from the heart», «Run to you», «Heaven», «Cuts like a knife», «Somebody», «Kids wanna rock» ou o invevitável «(Everything I do) I do it for you» -- que Adams e a sua banda não deixarão de tocar, visto estarem em «tournée» de promoção da compilação de êxitos «So far so good» -- são, pois, construídas dessa argamassa de melodia, sentimentos simples e irreverência juvenil, pronta a agradar a qualquer admirador de «rock'n'roll» na sua vertente mais imediatista.

Evidententemente que será, pois, inútil procurar nele quaisquer outras características que passem por soluções musicais inovadoras ou arriscadas, ou por abordagens mais complexas das atitudes e comportamentos, pessoais ou generalizados. O pacto é, portanto, claro e fácil de aceitar ou recusar, dependendo da vontade de cada um: exige-se boa disposição, simplicidade e emoção à flor da pele; recebem-se litros de suor, rock ultraclássico e melodias para todos cantarem à primeira.

Uma coisa é certa: ao contrário de muitos dos seus pares, e precisamente por não embarcar em demasiadas pomposidades ou ambições, Bryan Adams é um praticante convincente -- possivelmente, o mais -- do género musical que escolheu.

Jorge Dias / Público, 05/07/1994

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